#Opiniãotribunadepe – Missa do Vaqueiro não é mais aquela

Celebração foi criada em homenagem ao vaqueiro Raimundo Jacó
Celebração foi criada em homenagem ao vaqueiro Raimundo Jacó

*Machado Freire

Não é preciso dizer que este missivista/escriba participou e ainda participa, com as graças de Deus, dos fatos importantes ocorridos no Sertão pernambucano ao longo dos últimos 55/60 anos.

Um desses foi, por exemplo, me fazer presente à primeira Missa do Vaqueiro, idealizada por meu amigo padre vaqueiro João Câncio dos Santos, com o apoio de Luiz Gonzaga do Nascimento, o Gonzagão, que ao longo do tempo tornou-se meu amigo (ficamos amigos por muito tempo, até a sua morte), além de Pedro Bandeira, esse cearense que nasceu para a viola e a poesia.

A Missa do Vaqueiro de Serrita, idealizada, criada e implementada por esse trio não tinha nada a ver com isso que está ai.

Câncio, Gonzagão e Bandeira queriam e defendiam uma festa político-religiosa com a cara do povo sertanejo, sem esbanjamento e descaracterização do homem do campo, sempre defendido como um “agente “ ( e não objeto) da missa.

Eu e outros companheiros de imprensa passamos anos e mais anos escrevendo sobre os problemas que aconteceram na Missa do Vaqueiro, que iam além da descaracterização, ainda no tempo em que João Câncio e Gonzagão eram vivos.

Por que isso? Porque figuras que só queriam tirar proveito político e de outra natureza, se entrometiam no trabalho da dupla que teve a feliz ideia de criar algo que tinha um brilho extraordinário, ao ponto de receber turistas do mundo inteiro. Cansei de dizer que era o segundo maior espetáculo sócio-político e cultural em Pernambuco, depois da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém.

Ora, o Parque do Vaqueiro é do Estado e os celebrantes pertenciam (até a fundação da Diocese de Salgueiro), à Diocese de Petrolina. Tanto que os problemas envolvendo políticos exploradores – que não suportavam a coragem e determinação de João Câncio, iam esbarrar na Diocese de Petrolina. Chegou ao ponto da Diocese ameaçar sua retirada do ato religioso.

Mas as coisas sempre eram toleradas, superadas e a missa terminava acontecendo mais ou menos dentro do desenho que foi imaginado na sua criação.

Com a morte de João Câncio e Gonzagão, confesso que eu perdi o interesse de comparecer ao Parque Nacional do Vaqueiro.

Hoje, sem nenhum exagero, não existe nenhum sentimento que possa ser comparado àquele firmado na criação da Missa do Vaqueiro, que não olhava para o lado político eleitoral e financeiro.

Não preciso fulanizar nem baixar o meu discurso.

Quem é da “aldeia conhece os caboclos” e “formiga sabe que roça come”.

E quem são aqueles que acham que dinheiro (venha de onde vier, chegue de onde chegar) está acima de tudo?

O fato é que desrespeitam a grandeza do gesto dos verdadeiros idealizadores e defensores da Missa do Vaqueiro, que não pode (jamais) ser considerada propriedade de A ou B.

 

Jornalista*

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